Cravo, canela e o papo da Gabriela

Vivemos das mudanças. Uma das poucas certezas que temos na vida é que a maioria das coisas passa, se vai, se transforma. Incluo nessa lista nós mesmos, o ser humano é um ser da mudança, da dinâmica. E é preciso saber passar por elas, tanto quanto saber provocá-las.


Gal Costa canta: "Eu nasci assim, eu cresci assim, E sou mesmo assim, vou ser sempre assim: Gabriela" e destes versos vem o que os psicólogos de plantão batizaram de síndrome de Gabriela. Resumidamente, o papo todo é em torno da falta de perspectiva para mudança que algumas pessoas apresentam. Ou vai dizer que você não conhece ninguém que vez por outra bate o pé no chão e diz: "não mudo e ponto final" - algum conhecido, claro, nós jamais! Ou não...


Não é difícil encontrarmos situações em que nem mesmo nós nos damos razão, mas mesmo assim insistimos na mera teimosia. Em outros posts, falamos aqui que precisamos ser teimosos e questionadores, é verdade, desde que haja fundamento e verdade. Uma teimosia forçada pelo comodismo e pelo medo do novo não passa de uma demonstração de fraqueza. É preciso ser forte para encarar as mudanças da vida. Mais que isso, é preciso ser forte para provocar mudanças na própria vida.


Eis que a mesma Gal Costa canta (também!): "Quando eu vim para esse mundo, Eu não atinava em nada Hoje eu sou Gabriela". E é aí que as Gabrielas caem do cavalo! Mesmo que hoje tenhamos uma dificuldade danada de assumir uma postura diferente e com isso enfrentar riscos e encarar consequências das mudanças, se olharmos para trás veremos que foi exatamente isso o que fizemos a vida toda. Antes, não sabíamos metade do que sabemos hoje, tínhamos medos que hoje estão superados e incertezas que agora estão sanadas. Logo, o que somos hoje definitivamente não é mais a mesma coisa que éramos no passado. E aí temos um perigo: que o papo da tal síndrome de Gabriela não seja algo radicalmente ruim, uma vez que para aceitar as mudanças não precisamos perder nossa essência. Mudar não significa jogar fora tudo o que vivemos, mas aprender com a vivência a moldar a estrada pela frente. É preciso ter certeza de quem se é para se transformar uma história. Se quando viemos para este mundo "não atinávamos em nada", esta é a razão para hoje NÃO sermos Gabriela, "meus camaradas!".


Coerência é um valor que falta entre nós. Não precisamos e não devemos ficar presos a um mesmo modo de pensar, isso não é ser coerente. Ser coerente é ter humildade para mudar as lentes, e não só elas, mas também as palavras e principalmente os atos. Olhemos de frente para o espelho e poderemos enxergar que a maior prova de que aventurar-se nas mudanças é necessário e edificante somos nós mesmos. O caminho que construímos até agora pode e deve se estender para muito mais longe, desde que a parte mais valiosa de nós não se perca pela estrada.


Valeu!

3 comentários:

  1. Isso mesmo. Temos que procurar evoluir sempre mas sem perdermos a nossa essência.

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  2. Concordo com a Evolução, mas tambem defendo a Identidade... As Mudanças São necessarias, claro, desde que nao comece a criar mascaras com identidades e personalidades diferentes...

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  3. O Post está excelente!
    Partilho aqui a minha fraqueza de, de vez em quando, me pegar com a "Sindrome da Gabriela",

    Às vezes é:

    "Não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero", como diz São Paulo (Rm 7, 19). E a tal sindrome se torna uma sobremesa de limão, algo azedo, mas com uma doçura escondida. Reconheço-me assim, porque me reconheço finito. Tento melhorar, mas não consigo. E este reconhecimento me impele à abertura para a graça de Deus.

    O duro é quando a Sindrome se dá por outro motivo. Quando é a arrogância que vence em mim, o ceticismo. Este poder brutal de podermos dizer Não. "Que se danem os outros!" De quê vai adiantar mudar!?" É a sobremesa de limão azeda, de estragada. Vibro em extase, por me sentir senhor de mim, quando no fundo sei que estou só me enganando, porque há um só Senhor (mas neste intante não quero admitir Deus na minha vida, porque isso me obrigaria a fazer o certo).

    Nesse caso a Sindrome de Gabriela é pecado,
    segue o endereço de um artigo legal para refletir sobre isso:
    http://www.hottopos.com/videtur28/ljacidia.htm

    Mova-se com Deus.

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